terça-feira, 26 de maio de 2009

O Policial Saiu da Sala (James Berkley)

Sobre homens e formigas

A luz era precária e dentro daquela salinha o ar parecia prestes a terminar, mas não estava. O cheiro pútrido daquela sala podia deixar qualquer um sufocado. Uma formiga caminhava por cima da mesa e o barulho daquelas malditas patinhas era ensurdecedor, e ele não se segurou. O que seria mais uma morte para ele? Esmagou-a com o dedão e suspirou aliviado ao ouvir o clect que o pequeno animal fez ao ser impiedosamente esmagado.
Tic... tac... tic... tac... tic... Qual era o problema com aquele relógio desgraçado?! Por que ele tinha que fazer tanto barulho?! E onde estava aquele filho da puta?! O homem olhou a sala inteira ao seu redor e tudo o que viu foram as paredes cinza, cinza, cinza! Cigarro. Alcançou um cigarro no bolso e acendeu-o com o isqueiro. Lançou um olhar macabro à formiga morta e botou fogo no corpo diminuto, assistindo em silêncio enquanto ele queimava. Qual era o problema naquilo? Ela já estava morta mesmo, não era como se fosse gritar de dor.
Tragou profundamente, sentindo um relaxamento gostoso percorrer todo o seu corpo. Tic... tac... tic... tac... tic... De novo aquele relógio misterioso. Levou a mão à boca para retirar o cigarro e viu onde estava o relógio. No seu próprio pulso, quem diria! Como pôde esquecer do próprio relógio? Furioso, apagou o cigarro em cima do corpo carbonizado da formiga e se levantou num acesso de fúria, arrancando o relógio do pulso e jogando-o com força na parede. O barulho do vidro espatifando-se contra o cimento ecoou por toda a sala, e o que reinou depois foi o silêncio.
A atmosfera estava mais turva agora por causa da fumaça do cigarro, e o homem sentiu nos olhos uma ardência, eles provavelmente estavam ficando vermelhos. O suor gelado escorria pela a face dele e lhe atingia os lábios, salgado e espesso. As vestes já lhe colavam ao corpo por causa da transpiração, e respirar se tornava uma tarefa difícil. Ele mal podia ver agora, a fumaça que o cigarro produzira naquela salinha o deixava cego. E talvez também a ansiedade. Passou as mãos no rosto para secar o suor e de repente BANG! Sangue. BANG! Tiros. BANG! Corpos. Lembrava do último assassinato que cometera, o único que tinha acontecido sem intenção e o único pelo qual fora pego. Não queria ter matado aquela senhora, ela apenas... apenas viu o que não deveria ter visto.
Mais um som se assomava aos outros agora, e parecia ser o rufar de um tambor. Quem seria o idiota que estaria a tocar tambor numa hora como aquela? Quem seria a pessoa sem noção que desejava fazer tanto barulho? E o som ficava cada vez mais rápido, saindo do ritmo e voltando para ele, uma desordem total. O homem correu até a porta blindada e gritou, exigindo sair. Esmurrava a porta com todas as suas forças, e mesmo assim nada acontecia. Correu então a um outro canto do quarto e se encolheu ali, as mãos pressionando os ouvidos com força, mas isso só fez com que o barulho aumentasse. Gritou, gritou o mais alto que conseguiu, e mesmo os mais selvagens brados não conseguiram abrandar aquele som esmagador.
Agora não tinha mais noção de tempo. O relógio estava em estilhaços no chão, e não havia nada que indicasse as horas. O tambor estava mais e mais rápido, e o homem mantinha os olhos arregalados, no mais completo pavor, e começou a correr ao redor da pequena mesa de metal dentro da sala. Um som novo, rápido, seco. Os tambores pararam. O homem estava no chão, o rosto virado para o lado, os olhos abertos, opacos, desfocados. Uma pequena poça de saliva formava-se próxima ao rosto do homem. Uma formiga boiava na poça.

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